domingo, 21 de outubro de 2012

Genro vence sogro em disputa familiar que movimentou eleição em Tabaí


Genro vence sogro em disputa familiar que movimentou eleição em Tabaí Diego Vara/Agencia RBS
Mauro Sérgio (direita) foi eleito vice-prefeito e irá comandar Tabaí com João Brandão

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Na festa da vitória, o genro ficou esperando. Em meio aos abraços pela conquista da prefeitura de Tabaí, por 53 votos de diferença, todos perguntavam se o sogro ia aparecer para cumprimentar o vice-prefeito eleito, Mauro Sérgio de Vargas (PSB), 39 anos. Segundo colocado na disputa, o candidato a prefeito do PP, Osvaldo Pereira Machado, o Vadico, 64 anos, havia prometido que iria na comemoração do genro caso fosse derrotado por ele nas urnas. A declaração foi registrada por ZH às vésperas da votação, quando a disputa em família mobilizava a cidade de 3.483 eleitores.

Quase mil pessoas passaram pela festa, no salão comunitário em frente à Praça dos Queridos, naquele domingo de eleição, 7 de outubro. Mas Vadico, que até então era considerado o favorito, não apareceu.

Os dois só se encontraram dois dias depois, quando o sogro chegou à porta da serraria onde Sérgio trabalha, localizada no mesmo terreno de sua casa:

— Meus parabéns — gritou a 10 metros de distância, levantando a mão em saudação.

O genro não se conteve. Depois de meses dando só bom-dia e boa-tarde para o sogro, que mora na casa do outro lado da cerca, largou as toras de madeira que estava refilando e caminhou em sua direção.

Pareciam os primeiros passos de reaproximação depois da briga que há pouco mais de um ano o fez sair do partido do sogro e se transformar em seu principal rival, mas não foi bem assim. Ao ficar cara a cara com

Vadico, deu vazão às palavras que vinha guardando desde então.

— Pois é, Vadico, agora tá na hora de tu pedir perdão pra mim, né?

— Por que que eu vou te pedir perdão? — devolveu o sogro, que foi prefeito por oito anos no município que ajudou a emancipar.

Na porta da serraria, os dois ensaiaram um breve acerto de contas, duelando sobre o racha que acabou com os churrascos em família. Antes, os dois militavam na mesma sigla e traçavam estratégias políticas comuns, entre cuias de chimarrão e cortes de costela compartilhados: Vadico como presidente municipal do PP e Mauro como o vereador mais votado do partido. Só que, em meio às articulações políticas para a eleição deste ano, tudo mudou: inconformado com a aliança feita pelo sogro com o antigo arquirrival, o atual prefeito Arsenio Cardoso (DEM), Mauro saiu do PP, fundou o PSB no município e se coligou com o PT, concorrendo como vice na chapa do agora prefeito eleito João Brandão.

— Tu vai ter de pedir perdão pra mim, tu já pediu perdão para o Arsenio ... — insistiu o genro.

— Tu que tem de pedir desculpa para mim, tu saiu do partido — retrucou Vadico.

Tensão marcou clima pós-eleitoral

Mauro não se conformava com uma entrevista dada pelo sogro a uma rádio durante a campanha, quando Vadico pediu perdão ao atual prefeito pelo processo movido contra ele na última eleição. Foi uma ação encabeçada pela coligação que unia Mauro e Vadico em 2008, apontando supostas irregularidades na campanha de Arsenio, como compra de votos e falsificação de assinaturas de candidaturas. Sentindo-se respaldado pelo povo após a eleição, Mauro esperava que o sogro reconhecesse que havia errado por ter feito a aliança com o antigo desafeto. Em vão. Vadico não deu o braço a torcer, o genro insistiu, os dois se afastaram mais uma vez sem entendimento.

— Parecia até um velório — lembra a esposa de Vadico e sogra de Mauro, Vilma de Oliveira Machado, 64 anos, ao descrever o clima pós-eleitoral dentro da família.

O ambiente ficou tão tenso que nem no aniversário de Andreia, mulher de Mauro e filha de Vadico e Vilma, houve trégua. Ela completou 39 anos no dia seguinte à eleição. Buscando evitar um encontro constrangedor com o genro, o pai não cruzou a cerca que divide as duas propriedades para abraçar a filha. Preferiu dar as felicitações por telefone.

— Fiquei feliz pelo meu marido, mas fiquei com o coração partido pelo pai. Sabia que enquanto a gente tava comemorando ele tava pra baixo — divide-se Andreia, que ajudou na campanha do marido, mas permanece filiada ao partido do pai, o PP.

Ainda longe de uma reconciliação

Na última quarta-feira, Maria Eduarda, 11 anos, filha de Mauro e Andreia, desfilava pela casa do avô com uma camiseta confeccionada pela coligação do pai para comemorar a eleição. "Algo só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário", dizia a estampa no tecido vermelho, com inscrições do PT e do PSB nas mangas. Era uma referência ao resultado improvável da eleição, já que o próprio Mauro imaginava que ficaria em terceiro lugar na disputa, atrás das chapas de Vadico e do atual vice-prefeito, Enídio Pereira (PTB). Depois da apuração, a avó e a neta chegaram a discutir.

— Tu não é mais da minha família — disse Vilma num impulso, abalada pela derrota do marido para o genro.

— Só falta me dizer que o Arsenio é da tua família — devolveu a neta.

Mas no fundo todos acreditam numa reconciliação. Na quarta-feira, a avó já fazia carinho nos cabelos claros da neta, abraçando-a pela cintura.

— A gente fica sem jeito, mas passa... Família é família, a política passa. Um dia vamos botar uma pedra em cima disso, fazer as pazes — contemporizou a sogra e avó.

Quando será esse dia, ninguém sabe. Ao analisar sua derrota, o sogro lança insinuações sobre suposto "jogo sujo" na campanha, mas, como não tem provas, ele mesmo muda de assunto. Com a Bíblia em cima da mesa, Vadico diz que não se arrepende de nada do que fez. Lembra do bilhetinho que deixou no Muro das Lamentações, quando visitou Jerusalém, no ano passado. Lá, pedia a Deus que, se fosse de sua vontade, que o fizesse vencer. Do contrário, que o fizesse perder.

— Talvez foi melhor assim, cheguei a receber ameaças — diz, recusando-se a entrar em detalhes.

Nos dias seguintes à eleição, o sogro estendeu as redes de pesca na frente de casa, sonhando com as próximas pescarias. Diz que ainda não sabe qual será seu futuro político, nem sequer se estará na oposição ou na situação nos próximos anos. Quer esperar para ver como será a nova administração.

Longe do poder, o sogro garante que vai cobrar as promessas feitas pelo genro.

— Tomara que melhore as coisas. Eles prometeram asfalto. Se fizerem mesmo asfalto aqui na frente, sou até capaz de apoiar o lado deles — diz, num meio termo entre a torcida e a provocação.

Já Mauro atribui a vitória a um "desejo de mudança" da população. Junto com o mandato, comemora a vitória particular, entendendo que os eleitores lhe deram razão na briga familiar.

— Eu acredito que daqui a um tempo a gente vai poder fazer um churrasco no final de domingo — torce.

Mas, se depender de um pedido de perdão do sogro, ainda vai demorar.

— Eu não vou pedir desculpa pra genro — garante Vadico, com um leve sorriso no canto dos lábios.

Fonte: Zero Hora

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