A filha mais nova dele, Ligia Cristina Mello Monteiro, do segundo casamento de Luiz Felippe, tenta desde então congelar o corpo do pai com a técnica conhecida como “criogenia”, que utiliza nitrogênio líquido para resfriar e preservar o corpo. Segundo ela, o congelamento era um desejo expresso pelo pai antes de morrer.
 Como o pai, Ligia acredita que, com o avanço da ciência, será possível trazê-lo de volta à vida em algumas décadas.

“Já pensou ter a oportunidade de, daqui a 30 ou 40 anos, poder rever meu pai?”, indaga Ligia. “Não tem provas de que isso pode acontecer, mas é um sonho”, complementa. Entretanto, as outras duas irmãs,

Carmen Sílvia Monteiro Trois e Denise Nazaré Bastos Monteiro, do primeiro casamento, não concordaram com o congelamento, que seria realizado por uma empresa da cidade de Detroit, nos Estados Unidos. Elas entraram com um processo contra Ligia, exigindo o sepultamento de Luiz Felippe no jazigo da família, em um cemitério de Canoas (RS), onde vivem. “As irmãs que moram no Sul falaram que o congelamento do pai era um absurdo”, conta Rodrigo Marinho Crespo, advogado delas.

Crespo explica que, segundo as irmãs mais velhas, “nunca o pai manifestou qualquer vontade” em ser congelado. O advogado ressalta não haver “qualquer prova, em momento algum, que esse senhor queria ser congelado nos EUA”. “As próprias irmãs declararam que, se soubessem desse desejo, fariam o congelamento. Mas elas não tinham qualquer conhecimento disso”, acrescenta.

O advogado, então, pediu e conseguiu uma liminar, na própria Quarta-feira de Cinzas, que impedia que o corpo fosse levado para os EUA. Desde então, já há mais de três meses, Ligia arca com as despesas para manter o corpo do pai preservado. “Por dia, pago R$ 500 para a funerária e compro R$ 360 de gelo seco.

Já gastei minhas economias da vida toda”, conta ela. Ao todo, já foram gastos quase R$ 95 mil.

Pouco relacionamento entre irmãs

Ligia explica que, após a separação do pai da primeira esposa, houve um distanciamento entre ele e as filhas do primeiro casamento. Por isso, afirma que as irmãs não sabiam do desejo do pai ser congelado. “Ele se separou da mãe delas há 34 anos e conheceu minha mãe. Logo depois eu nasci. Minha mãe faleceu de câncer quando eu tinha 7 anos, e continuei morando com meu pai”, recorda a irmã mais nova. “Com 19 anos, fui conhecer a Carmen e, mais tarde, a Denise. Nosso contato era muito pequeno, mínimo, quase zero. A gente nunca se deu bem”, acrescenta.

Entretanto, Ligia afirma que, em 2009, mandou um e-mail para as irmãs do Sul, pedindo a opinião delas sobre a possibilidade de o corpo do pai ser submetido a uma criogenia. “Reenviei esse e-mail a minhas irmãs para comprovar minha boa fé”, conta ela. “Tenho esse email guardado até hoje”, complementa.

O advogado das irmãs mais velhas comenta que elas não entendem a postura de Ligia. “A gente se pergunta: por que essa insistência?”, conta Crespo. “Eu achava que ninguém ia ser contra. Elas foram contra o congelamento por uma revanche contra mim, por briguinha boa”, acredita Ligia. “Na ação, elas ainda estão pedindo danos morais. Ou seja: ainda querem lucrar com essa história”, critica Ligia.

Decisão judicial

Na última quarta-feira (13), desembargadores decidiram, em segunda instância, permitir que o corpo de Luiz Felippe possa ser embarcado para os EUA, conforme revelou a coluna de Ancelmo Gois, no Globo.

Mas Rodrigo Crespo já avisou que vai recorrer da decisão e criticou a decisão: “Deveria ter sido observado que, por maioria, duas herdeiras preferem o sepultamento do pai”.
Do outro lado, Ligia comemora e avisa que vai fazer de tudo para que a vontade do pai seja realizada.

“Cheguei a abrir mão da minha parte na herança e deixar para minhas irmãs. Isso está nos autos. Estou muito positiva, porque os desembargadores foram muito sensatos. Meu pai vai ser o primeiro homem congelado da América do Sul. Pode ser até que esse caso venha a suscitar outros”, conclui ela.