segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Marcelinho pode ser investigado por suspeita de negociar cargo

Na próxima terça-feira, os vereadores Juracy Ferreira da Silva (PMDB-SP) e Izidro Neto (PDT-SP) se reunirão com outros cinco parlamentares da oposição em Ferraz de Vasconcelos. Eles vão definir como entrar com pedido de investigação sobre a recusa do ex-jogador Marcelinho Carioca em assumir o mandato do deputado federal Abelardo Camarinha (PSB-SP) na Câmara dos Deputados. Marcelinho abriu mão da vaga, deixando livre o caminho para que a deputada Elaine Abissamra, terceira suplente do PSB paulista e mulher do prefeito Jorge Abissamra (PSB-SP) assumisse o posto.

Como adiantou a coluna Poder Online na terça-feira, Marcelinho cedeu sua vaga no Congresso, embora seja autor da ação judicial do PSB que pede o mandato do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP). O advogado do ex-jogador na ação judicial em que ele pede o mandato de Chalita é Flávio Henrique Moraes, secretário de Negócios Jurídicos de Ferraz de Vasconcelos.

Três dias antes de desistir do mandato, o ex-jogador esteve em Ferraz de Vasconcelos e almoçou com o prefeito Jorge Abissamra, no restaurante Candieiro, de acordo com relatos dos vereadores Juracy e Izidro.

Foto: AE Ampliar

Então pré-candidato a deputado, Marcelinho abraça o marqueteiro Duda Mendonça no lançamento da pré-candidatura de Paulo Skaf pelo PSB em São Paulo, em maio de 2010

Os parlamentares suspeitam que Abissamra tenha usado dinheiro público na negociação com o ex-jogador. Na próxima segunda-feira, o grupo de vereadores entrará com uma representação contra o prefeito na Procuradoria-Geral do Estado. No dia 16 de agosto, eles devem acionar o Tribunal de Contas. As acusações são de fraude em licitações, superfaturamento e paralisação de obras.

“Marcelinho tem de se explicar publicamente”, afirmou Juracy. “Vemos com estranheza o Marcelinho, que teve quase 70 mil votos, não assumir o cargo. Foi feita uma negociação, mas não sei que tipo de negociação. Não está bem explicado”, disse Izidro Neto.

Marcelinho, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou ao iG que considera as acusações “absurdas”. Ao jornal Diário de S. Paulo, declarou nesta quinta-feira: “Não nasci para ser reserva. Nunca fui reserva na minha vida e não vou ser agora. Quando eu entrar, é para nunca mais sair”.

Foto: Reprodução Ampliar

Juntos, Marcelinho e Abissamra visitam escola

Em sua avaliação, assumir o mandato por quatro meses – período em que Camarinha ficará de licença – é pouco. Camarinha pediu o prazo de licença máxima permitida a um parlamentar sob a alegação de que seria submetido a uma cirurgia de diverticulite. “Quem acusar e não provar será devidamente acionado na Justiça”, afirmou o ex-jogador.

Em nota enviada ao iG, Marcelinho Carioca alega que não pôde assumir o mandato agora em função de compromissos profissionais com seu resort em Atibaia e sua empresa de representação de jogadores. “Tenho uma viagem marcada para a Itália e passaria muito tempo fora, já que o mandato será curto. Além disso, o mandato não seria meu. Em relação ao caso do Chalita, é completamente diferente. Decidi buscar meus direitos e aguardo a decisão da Justiça Eleitoral sobre a infidelidade partidária. Como esse pedido ainda está sendo analisado pela Justiça, terei tempo para me organizar e me dedicar de corpo e alma ao mandato de deputado”, disse.

O prefeito Jorge Abissamra, cuja administração conta com 152 títulos protestados, não quis falar sobre o assunto.

Títulos protestados

Proprietário de um resort de 221 mil m² em Atibaia – declarado à Justiça Eleitoral no valor de R$ 4 mil –, Marcelinho Carioca é réu em dezenas de processos por dívidas protestadas na Justiça. Na lista de empresas que aguardam pagamentos do ex-jogador estão Vivo, Hospital São Luiz e imobiliária Campeão Imóveis, de Guarulhos. De acordo com a imobiliária, Marcelinho deixou de pagar o aluguel de um imóvel onde seu irmão morava.

O Hospital Sírio-Libanês também move uma ação contra Marcelinho por uma dívida de R$ 31.466,67. Segundo o advogado do hospital, Elias Farah Júnior, a ação diz respeito a uma “questão familiar”. De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, o processo, aberto na capital paulista, foi distribuído para o Fórum de Atibaia, onde fica o resort. Desde maio deste ano, a ação aguarda diligência para localização de bens.

Quatro cheques assinados por Marcelinho foram devolvidos pelo Bank Boston por falta de fundos. Os títulos protestados estão registrados no 1º e 8º Tabelião da capital paulista.

Marcelinho também foi acionado seis vezes pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo pelo não pagamento de IPVA. As dívidas estão em nome da sua empresa, a MC Sports. Cinco dívidas são de 2011 e totalizam R$ 23.311,54. Uma é de 2006, no valor de R$ 8.422,86.

Foto: AE Ampliar

Marcelinho entrega ao ex-presidente Lula camisa do centenário do Corinthians, em abril de 2010

Além do resort em Atibaia e da empresa de representação de jogadores, Marcelinho tem como fonte de renda pagamentos por sua exposição na mídia. Em 2010, por exemplo, ele recebeu uma parcela dos lucros obtidos com a venda de produtos ligados a seu nome como embaixador do centenário do Corinthians, seu ex-time.

A contratação foi vista como um afago ao ex-craque que, em 2003, processou o Corinthians por “causa trabalhista” em R$ 7 milhões. De acordo com a diretoria jurídica, o clube conseguiu reverter a situação na Justiça e acabou vencendo a causa. Ainda segundo o Corinthians, o então jogador teve de dar um imóvel para que a dívida fosse quitada. Em 2006 ele chegou a jogar no clube para abater a dívida que tinha com o Corinthians.

O patrimônio declarado por Marcelinho ao Tribunal Superior Eleitoral soma R$ 703.800.

Nenhum comentário:

Postar um comentário