domingo, 22 de abril de 2012

Dormir em casa foi um alívio muito grande, diz missionária gaúcha que ficou retida em Guiné-Bissau

Dormir em casa foi um alívio muito grande, diz missionária gaúcha que ficou retida em Guiné-Bissau Edu cavalcanti/Agencia RBS
Gaúcha Estela e o marido foram recebidos pelos filhos na noite de sábado em aeroporto de SC

Após oito dias sem poder sair de Guiné-Bissau por conta de um golpe de Estado, um grupo de 10 missionários de Santa Catarina finalmente dormiu em casa neste final de semana.

— Foi uma sensação de alívio muito grande. Quando deitei na minha cama, com os meus três filhos, só dizia 'Deus, obrigada' — disse Estela Mônica Gimenez Falcão Martins, 33 anos, natural de Uruguaiana, por telefone a Zero Hora, de sua casa em Florianópolis, neste domingo.

Ela, o marido, o catarinense Isaac Martins, 39 anos, e outras oito pessoas viajaram a Bissau, capital do país, em 8 de abril para uma missão humanitária da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, em São José. No dia 12, porém, perceberam uma movimentação estranha nas ruas.

Militares golpistas haviam tomado as ruas da cidade e prendido o premier e o presidente interino, Raimundo Pereira. Os relatos do grupo indicam que não correram perigo enquanto estavam na capital, onde foram auxiliados por religiosos locais, mas os golpistas fecharam os espaços aéreo e marítimo, impedindo que qualquer cidadão saísse do país na costa oeste africana.

A negociação para que partissem de Bissau foi longa. Sem perspectiva de voos, os missionários planejavam alugar uma van e percorrer por terra um trajeto de cerca de mil quilômetros até o Senegal. Tinham, inclusive, providenciado vistos para isso.

— Mas eu pessoalmente não queria. Algumas pessoas nos diziam que era muito perigoso — acrescentou Estela.

Um dia antes, por intermédio de um político do país ligado à igreja, conseguiram um voo que sairia na sexta-feira para Dacar, capital do Senegal. Segundo os brasileiros, o voo foi intermediado por uma companhia portuguesa com outra de Cabo Verde e teria sido o primeiro a deixar o país em meio à tensão.

Havia, porém, espaço para apenas sete deles. Decididos que ninguém ficaria para trás, o grupo insistiu durante toda uma tarde até conseguir passagens para todos.

Ao deixar Guiné-Bissau, cuja língua oficial é o português, mais uma dificuldade. No Senegal, faltavam três lugares no voo para Lisboa, última escala antes do Rio de Janeiro. Ninguém falava inglês ou francês (língua oficial do país). O pastor Ezequiel Montanha, líder da comitiva, apenas compreendia algumas palavras. Ao fim, conseguiram embarcar.

O avião chegou ao Aeroporto Hercílio Luz às 21h40min de sábado. Quando os 10 saíram juntos pela porta que separa as esteiras de bagagem do hall central do aeroporto, a emoção foi geral. Os familiares os esperavam com cartazes e balões.

Entrevistado na chegada, o pastor pediu mais atenção à nação africana:

— É um país sem infraestrutura, sem saneamento básico, e o povo está muito empobrecido. Espero que o mundo olhe mais para a Guiné-Bissau porque neste momento eles estão completamente abandonados. Eles não têm nem mesmo a agricultura, só plantam arroz. O resto vêm tudo de fora, e as coisas já começavam a escassear no comércio. Nem eletricidade eles têm. Tudo é movido a geradores a diesel.

De acordo com o Itamaraty, há cerca de 300 brasileiros na região. O golpe militar ocorreu a apenas duas semanas do segundo turno das eleições na Guiné-Bissau, marcado para o próximo domingo. O primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, era o principal candidato na disputa presidencial. Com 48,97% dos votos no primeiro turno, em 18 de março, ele disputaria o segundo turno com Kumaba Yalá.

Desde que deixou de ser colônia de Portugal, em 1974, Guiné-Bissau sofre com agitação política e por uma série de golpes militares.

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