domingo, 9 de dezembro de 2012

Empresas calçadistas que deixaram o Rio Grande do Sul fecham fábricas fora do Estado


Empresas calçadistas que deixaram o Rio Grande do Sul fecham fábricas fora do Estado Nilton Gonzaga/Agência A Tarde
Fábrica de Itapetinga será a única que a Azaleia manterá na Bahia

Empresas do setor calçadista que pararam de produzir no Rio Grande do Sul estão fechando unidades em outros Estados e países, pressionadas pelas dificuldades para treinar trabalhadores e pela concorrência de produtos importados. Os casos mais emblemáticos são a Azaleia, que está encerrando atividades de 12 unidades na Bahia, e a Schmidt Irmãos, que abandona a Nicarágua.

No passado, as duas empresas optaram por abandonar o Estado em busca de vantagens fiscais e de menor custo de mão de obra. Ainda que os problemas que as atinjam hoje sejam diferentes, para o presidente do Badesul e coordenador do setor coureiro-calçadista da Política Industrial do Estado, Marcelo Lopes, as dificuldades enfrentadas por essas empresas podem apontar um erro de avaliação sobre os riscos de fazer a migração.

— Algumas saíram e acabaram voltando, e outras tantas têm crescido sem deixar o Rio Grande do Sul. Construir um cluster (complexo) calçadista não é fácil, e isso já está estabelecido aqui — afirma Lopes.

Mesmo que as empresas que deixaram o Estado estejam encontrando dificuldades em outros lugares, para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, os empregos que se perderam com o fechamento das fábricas locais não devem voltar ao Estado. Conforme dados do Ministério do Trabalho e da Abicalçados, em 1991, o setor empregava 56,8 mil pessoas. No ano passado, eram 44,6 mil. Em duas décadas, 12,2 mil vagas foram suprimidas.

— São situações muito pontuais, não terão reflexos no emprego aqui. As empresas brasileiras sofrem com os importados — avalia Klein.

O presidente do Badesul, no entanto, considera possível a volta das empresas. Lopes afirma que estão sendo realizadas reuniões com representantes do segmento para discutir ações que ampliem a competitividade do Rio Grande do Sul.

— A questão fiscal é central para as empresas calçadistas. Tivemos modificações no ano passado, e é possível que possamos avançar nesse tema — projeta Lopes.

Nem na Bahia estrangeiros dão trégua

Fundada em Parobé, no Vale do Paranhana, onde chegou a ter 8 mil funcionários, a Azaleia deixou definitivamente de produzir no Estado em 2011. Agora está fechando 12 filiais no Nordeste, desempregando 4 mil trabalhadores. A única fábrica baiana que seguirá é a de Itapetinga.

A opção da Azaleia por produzir no Nordeste foi baseada principalmente nos incentivos fiscais recebidos. Conforme a Abicalçados, enquanto no Rio Grande do Sul o ICMS chega a 12%, a alíquota na Bahia está perto de zero.

Além disso, a mão de obra nordestina, no início da migração das empresas gaúchas, há mais de 20 anos, era em média 10% mais barata. Hoje, essa diferença quase inexiste.

A Vulcabras, dona da Azaleia, afirma que está fechando as unidades em função de "sucessivos e elevados prejuízos financeiros". O problema seria causado pela maior competição com produtos importados a preços baixos. Conforme analistas de mercado, o modelo de unidades em diferentes cidades estaria aumentando as perdas, o que explicaria a opção por centralizar a produção.

— A carga tributária não é só ICMS, e em certos setores se justifica não produzir no Brasil — diz o especialista em direito tributário e professor da UFRGS, Humberto Ávila.

Falta de mão de obra treinada na Nicarágua

A Schmidt Irmãos chegou a ter 21 unidades no Estado, com 3 mil funcionários. Fundada em 1943, em Campo Bom, a empresa foi atraída para a Nicarágua em 2010 principalmente pelo acordo de livre comércio firmado entre países da América Central e os Estados Unidos. O Cafta prevê imposto menor para exportar, gerando redução no preço final do produto entre 10% a 12% em relação ao Brasil.

Pouco mais de um ano depois, a indústria perdeu seu principal cliente nos EUA. Além disso, teve dificuldades para treinar mão de obra qualificada. Em agosto, a Schmidt Irmãos começou a reduzir sua equipe na Nicarágua, e a tendência é de que a unidade seja fechada.

— A empresa ainda mantinha funcionários em Campo Bom, que agora devem perder seus empregos. Avaliamos que estejam encerrando definitivamente suas atividades — afirma o presidente do Sindicato dos Sapateiros de Campo Bom, Vicente Selistre.

A Schmidt Irmãos confirma que deve deixar a América Central, mas não comenta desdobramentos.
— Há problemas culturais, que as empresas precisam analisar antes de decidir ir para outro país — analisa José Carlos Lehn, especialista em administração e negócios internacionais e professor da Universidade Feevale.

Fonte: ZERO HORA

Nenhum comentário:

Postar um comentário