Novo Hamburgo
- Há seis meses, Adriana Martins da Silva percorre o mesmo caminho
quase todos os dias na hora do almoço. O destino é a Rua 25 de Julho, no
bairro Rio Branco, onde na segunda-feira tropeçou em um bolo de notas
de 50 reais, perdidas junto ao meio-fio da calçada. Dobradas e presas a
um elástico de atar dinheiro, a soma de todas chegava a R$ 1 mil.
Assistente de recebimento em uma distribuidora de alimentos em Novo
Hamburgo, onde ganha 800 reais brutos por mês, Adriana titubeou: “Pego
ou não pego?”, questionou-se. “Se deixar, alguém pode pegar e usar de
forma errada”, pensou antes de apanhar o dinheiro e colocá-lo na bolsa.
Aos 33 anos, casada há 16 e mãe de dois meninos, Adriana fez o que
poucas pessoas fariam. Na terça, procurou a Guarda Municipal. Os agentes
aconselharam a levar o valor à Delegacia de Polícia de
Pronto-Atendimento (DPPA). Na manhã do dia seguinte, ainda sem ter
revelado à família e aos amigos que havia encontrado na rua R$ 1 mil,
surgiu um imprevisto. Faltava dinheiro para pagar a passagem de ônibus
até a Delegacia. Decidiu procurar o departamento de Recursos Humanos da
empresa onde trabalha e pediu um adiantamento de R$ 5,30. Ao meio-dia,
ao invés de seguir para o almoço, foi entregar o dinheiro à Polícia.
“Fiz o que era o mais justo”, garante Adriana.
A fé como princípio de vida
Adriana Martins da Silva, devota da Igreja Evangélica O Brasil para
Cristo, carrega com a família a esperança de dias melhores, sempre
baseados na honestidade e no amor ao próximo. “Sou filha de mãe
solteira, desde jovem aprendi a ser honesta, a trabalhar”, lembra ela,
que reside no bairro Sol Nascente, em Estância Velha.
Havia
fortes motivos para a assistente de recebimento ficar com a grana. A mãe
precisa de atendimento de um dentista. Poderia ajudar o marido, o
soldador Márcio Costa da Silva, 34, na compra do primeiro automóvel da
família. Quem sabe melhorar o roupeiro dos filhos, Wagner, 15, e Daniel,
5. Reformar a casa ou tirar a sonhada Carteira Nacional de Habilitação
(CNH). Tudo isso passou pela cabeça de Adriana. No entanto, nada mudou a
ideia de entregar o valor. “Me senti bem, de coração alegre”, resume
Adriana, que somente na noite de quarta contou ao marido o que havia
ocorrido. Ele se surpreendeu ao olhar a ocorrência policial, mas apoiou a
decisão. “Meu marido disse que eu fiz o certo.”
Destino do dinheiro
Segundo os agentes da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento
(DPPA) de Novo Hamburgo, como não há nenhuma identificação de quem seja
dono dos R$ 1 mil, o dinheiro será encaminhado para uma conta do governo
federal.
A professora de Psicologia da Feevale, Ana Beatriz
Guerra Mello, afirma que a atitude de Adriana Martins da Silva nasceu na
educação que recebeu em casa. “Hoje a sociedade tem uma proposta mais
violenta, de levar vantagem um do outro”, diz a docente.
A
entrega do dinheiro mostra que ainda existe honestidade na relação entre
as pessoas. “Revela valores e princípios. Prova que a integridade nas
pessoas pode existir. A sociedade tem valores, que, para essa pessoa, é a
honestidade”, conclui a psicóloga.
Fonte: NH On-Line
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